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Por que que a seca extrema no Norte do País ameaça o Pantanal?

Por que que a seca extrema no Norte do País ameaça o Pantanal?Aumento de incêndios na Amazônia já reflete na região. Foto: Agência Brasil

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O aumento de eventos climáticos extremos somado  ao El Niño reforça o alerta para um período de seca prolongado, com aumento no número de queimadas no Pantanal. O efeito, segundo especialistas, é explicado pela relação de codependência da região com biomas vizinhos, como a Amazônia e o Cerrado.

A lógica é simples: sem a água que se tornaria vapor e seria transportada por rios flutuantes até o Pantanal, a tendência é de menos chuva. Sem chuva, há seca, e com a seca, o bioma fica mais exposto aos focos de calor. É o que detalha o biólogo e um dos diretores da Organização Não Governamental (ONG) SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa ao G1 Mato Grosso do Sul.

“Com a diminuição da evaporação de água na Amazônia, que traz águas para o Centro-Oeste, com a diminuição das matas ciliares no Cerrado, que é onde nascem os rios que banham o Pantanal, o aumento da seca é inevitável. Vários fatores somados à ação humana estão diminuindo sua capacidade, porque o Pantanal depende da água que vem de fora”, diz Figueirôa.

De acordo com ele, o Pantanal é um ecossistema formado por outros ecossistemas, podendo ser comparado a um mosaico. Esta perspectiva torna o cenário atual ainda mais preocupante, já que, de janeiro a setembro deste ano, a Amazônia registrou 25.414 focos de incêndio. A estiagem bateu recorde em estados do Norte e do Nordeste nos últimos 40 anos.

Os reflexos disso são demonstrados por dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontam que, de janeiro a outubro do ano passado foram computados 1.189 focos de incêndio, neste ano já são 1.629 no mesmo período. Um aumento de 36%.

Queimadas

Outros números reforçam o alerta. O Sistema para Pesquisas e Gerência de Informações sobre Focos de Fogo da Nasa (FIRMS), por exemplo, aponta que pelo menos 480 focos de calor estavam ativos no Pantanal até esta segunda-feira (23).

Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), cerca de 311.575 hectares já foram consumidos pelo fogo neste ano, o que representa 2,06% da área total do bioma, localizado entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“É uma ação direta da seca e dos incêndios. Além da falta de recursos para os animais, os incêndios são ocasionados por essa seca e esse calor extremo. Então a gente já está vendo os impactos acontecendo ao vivo. […] O Pantanal é um bioma muito frágil ligado a água, sem água o Pantanal não é o que é. Então isso está completamente ligado, é uma ligação direta do que acontece com o Cerrado e Amazônia, tem influência direta sobre o Pantanal”.

El Niño

O professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo, explica que o El Niño até poderia beneficiar o Pantanal, já que a tendência seria chover mais na região Centro-Oeste, em especial em Mato Grosso do Sul. Contudo, os eventos climáticos extremos podem reduzir as chuvas na região.

“Podemos esperar o aumento de eventos climáticos adversos, como secas severas que tendem a aumentar os incêndios. É possível que possamos ter uma seca muito mais intensa neste ano, em particular. Os eventos climáticos extremos estão predominando em contraponto aos efeitos climáticos normais”, enfatiza Artaxo.

Logística

O rio Paraguai é o principal afluente do Pantanal, é como se fosse o coração do bioma que pulsa água para outros pequenos rios e braços d’água. Além da questão ambiental, o rio é uma importante hidrovia. Em 2022, a movimentação de cargas pelo rio Paraguai a partir dos portos de Mato Grosso do Sul superou 4,2 milhões de toneladas.

Neste momento, o rio passa pelo período de vazante, quando seus níveis começam a subir. No entanto, a situação atual é bem diferente do que se esperava.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal e especialista em estudos sobre o rio Paraguai, Carlos Padovani, afirma que o afluente já está abaixo do nível de dois metros, considerado crítico. Para ele, o transporte pela hidrovia pode ficar inviável.

“Pelo menos neste período de seca vai ter interrupção do transporte hidroviário. Os navios podem encalhar, não vão conseguir trafegar. Se não tivermos chuvas, conforme o padrão, a tendência é continuar a descida rápida. Quando chegar nas mínimas, elas vão ser permanentes. Quando começar as chuvas, vai demorar para restabelecer os padrões normais dos rios”, conclui.

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