HomeEcologiaEconomia

Empresas podem proteger florestas e lucrar com mercados de carbono

Empresas podem proteger florestas e lucrar com mercados de carbonoDesafios podem ser contornados em mercados voluntários. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Prejuízos da suspensão de carne para China pode chegar a R$ 500 mi em MT
Clima gera rombo de R$ 4,6 bi a resseguradoras no campo
Cultivo do maracujá em Nova Ubiratã traz otimismo para agricultor familiar

Por André Garcia

Além de garantir o reflorestamento, o mercado de carbono pode render até US$ 100 bilhões para o Brasil, além de gerar 8,5 milhões de empregos. O desafio está no investimento. A iniciativa privada pode liderar a estratégia de preservação ambiental e lucratividade, uma vez que o setor público já demonstrou não dispor de recursos suficientes para garantir o avanço do setor.

Para se ter ideia da importância das empresas neste cenário, o financiamento público para agricultura e silvicultura, tanto nacional quanto internacional, supera em até dez vezes o financiamento climático público destinado a medidas de restauração e conservação florestal.

É o que mostra o Instituto de Pesquisa WRI, que traz outro dado mais preocupante: o atual financiamento público para mitigação com foco nas florestas, tanto em escala nacional quanto internacional, representa menos de 1% do necessário para cumprir as metas florestais globais.

Isso ocorre porque, mesmo com potencial bilionário, o mercado voluntário de carbono está hoje em um ponto de inflexão. Neste contexto, o diretor da Kryia Agronegócios de Baixo Carbono, Nuno Cunha, falou recentemente ao Gigante 163 sobre como o Brasil pode ser beneficiado por avanços no setor.

“Ao contrário dos países desenvolvidos que têm uma matriz energética que precisa ser descarbonizada, o Brasil tem oportunidade de alavancar, segundo várias projeções, centenas de milhões de dólares, chegando a bilhões anuais nos próximos anos.”

Empresas saem na frente

Não à toa, empresas como Santander, Votorantim, Cargill, Bayer, Vivo e Bradesco já estão de olho no tema. Elas estão entre os 64 empreendimentos que integram o Brasil Meio Ambiente (#BPMA), iniciativa que reúne iniciativas que cumprem critérios pré-estabelecidos de boas práticas ambientais.

Fruto de parceria enre Amcham Business e Center International Chamber of Comerce (ICC-Brasil), o painel da (#BPMA) contabiliza 105 projetos de 64 empresas, totalizando R$4 bilhões em recursos mobilizados.

Isso pode resultar em 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa preservados ou restaurados e 30,6 bilhões emissões de gás carbônico evitadas ou capturadas. Cada uma tonelada de gás corresponde a um crédito.

Nuno destaca a variedade de atividades que podem ser aplicadas a este mercado, o que pode mudar o cenário da economia nacional.

“Diversas atividades podem participar deste mercado, como sequestro de carbono florestal e no solo, geração de energia de resíduos, redução de metano de fermentação entérica bovina, redução na aplicação de compostos nitrogenados por bioinsumos etc”, afirmou.

Enfrentando desafios

O ponto positivo é que a proposta vem caminhando no Brasil, mesmo que a passos lentos. Recentemente o Governo Federal sancionou a lei da concessão de florestas públicas, que permite o comércio do crédito de carbono.

Para ajudar as empresas a se beneficiarem com o combate ao desmatamento por meio da compra de créditos de carbono, o Tropical Forest Credit Integrity Guide estabelece estratégias como o alinhamento dos portfólios com as necessidades globais e o estímulo à demanda por créditos em escala jurisdicional.

Como funciona hoje

Existem dois tipos de mercados de carbono dos quais as empresas podem participar: os voluntários e os regulados. O primeiro consiste na aquisição de créditos por parte de empreendimentos ou entidades que buscam cumprir compromissos de mitigação voluntários.

Já no segundo caso, as empresas adquirem créditos de carbono para atender obrigações impostas por legislações nacionais ou acordos internacionais. Os requisitos variam conforme os países e acordos, incluindo os tipos de créditos elegíveis e o limite da parcela de redução de emissões a serem preenchidos utilizando estes créditos.

No entanto, no caso dos mercados voluntários, essas regulações ainda não se concretizaram, assim como não há uma estrutura independente que estabeleça regras em relação à qualidade dos créditos ou às reivindicações que as empresas podem fazer com base em suas aquisições.

Foi o que explicou à reportagem o professor de Direito e ASG e pesquisador do Grupo de Direito e Sustentabilidade da Pontifícia Universidade de São Paulo (Puc), Leonardo Freire.

“Até agora as transações vêm sendo asseguradas por contratos. Isso permite que projetos brasileiros sejam registrados e emitam seus créditos em mercados internacionais, rentabilizando de forma sustentável o ativo. Existem mais dúvidas sobre como acessar esse mercado, mas não tem muito mistério.”

LEIA MAIS:

Agricultura de baixo carbono é prioridade do Plano Safra

Sancionada lei que permite comercialização de crédito de carbono

Aprovada pelo Senado MP que estimula mercado de carbono na gestão de florestas

Tecnologia e diversificação são chave para MT liderar mercado de carbono

Selo de baixo carbono para soja avança e deve garantir bonificação

Com legislação, MT pode ser ‘Disneylândia’ do mercado de carbono