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Selo de baixo carbono para soja avança e deve garantir bonificação

Selo de baixo carbono para soja avança e deve garantir bonificaçãoMetodologia vai certificar áreas produtoras com baixa emissão. Foto: ANeto/Arquivo Embrapa

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Por André Garcia

Em breve a emissão de carbono nas lavouras de soja brasileiras deverá ser quantificada, garantindo aos produtores que alcançarem resultados acima da média uma certificação. É o que pretende a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que está elaborando uma metodologia para mensurar as emissões de gases do efeito estufa (GEE).

A iniciativa, apresentada na terça-feira, 12/4, na Expolondrina, busca dar uma resposta à pressão de governos e consumidores pela redução do impacto da principal cultura brasileira no clima. A previsão é de que a proposta seja apresentada neste semestre, sendo testada a partir de outubro, quando tem início a safra de soja (2023/24).

Segundo a Embrapa, os critérios serão avaliados ao longo de três safras e a expectativa é de que, tanto a metodologia, quanto a marca do selo Soja Baixo Carbono (SBC) estejam consolidadas em 2026. A ideia é garantir vantagens financeiras ao produtor rural, como facilidade no acesso a crédito ou pagamentos por serviços ambientais.

É o que explica o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi ao destacar eventuais bonificações, financiamentos com taxas de juros mais atrativas e outros benefícios dos quais grandes empresas do agronegócio já desfrutam.

“As práticas que reduzem as emissões de GEE são as mesmas que aumentam a produtividade e reduzem os custos, o que mostra que o produtor terá ganhos. O desafio técnico é que o custo de implantação seja compatível com os benefícios e que possamos atender as demandas de sustentabilidade do mercado”, diz.

Do ponto de vista da pesquisa, Debiasi conta que a metodologia não está limitada apenas à verificação de conformidade e adoção de boas práticas pelos produtores rurais, mas também ao estabelecimento de parâmetros de comparação entre as áreascandidatas à certificação em cada região.

“Outro desafio da metodologia é possibilitar que essas áreas sejam auditáveis, ou seja, demonstrem em números, de fato, o que é declarado em termos de redução das emissões”, afirma.

Validação

De acordo com a pesquisadora Roberta Carnevalli, da Embrapa Soja, o protocolo passará por validação em, pelo menos, cinco lavouras-piloto em aproximadamente 25 áreas de diferentes regiões produtoras de soja no Brasil. O processo deve ser validado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

“O processo precisa ser realizado com bastante critério, ao longo das três safras, para dar credibilidade às ações que devem ser implementadas pelos sistemas de produção candidatos a receber o selo SBC. O protocolo precisa ser mensurável, recortável e verificável, com base em ciência, e ter aceitação internacional”, ressalta Carnevalli.

O Programa Soja Baixo Carbono

Os esforços fazem parte do Programa Soja Baixo Carbono (PSBC) da Embrapa, que contempla outras boas práticas de manejo no campo e que também impactam nas emissões de CO2. O PSBC estima que o potencial de redução das emissões de GEEs poderá ser de até 50%, a partir da adoção de tecnologias sustentáveis.

“Além do sistema de plantio direto, há um conjunto de tecnologias acessíveis que, quando adotadas, reduzem as emissões de GEEs em relação aos sistemas modais, sem prejuízo algum à produtividade, mostrando adicionalidade necessária para concessão do selo SBC”, explica o pesquisador Marco Antônio Nogueira, da Embrapa Soja.

As vantagens para o agro

Quem acompanha o Gigante 163 sabe que o modelo de produção agropecuária carbono zero, um dos quatro pilares do Pacto Global da ONU e chave para o desenvolvimento sustentável, oferece grandes oportunidades para o agronegócio brasileiros. Conforme temos publicado, as perspectivas se repetem entre pesquisadores e empresários e tem se embasado políticas do governo.

Já mostramos o potencial de Mato Grosso em um cenário de mercado de carbono consolidado e como a utilização de tecnologias pode auxiliar no processo. O uso eficiente de fertilizantes, a substituição de insumos químicos por bioinsumos, as cultivares mais produtivas e com resistência a estresses bióticos e abióticos, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas e a fixação biológica do nitrogênio são alguns exemplos.

“A aplicação de nitrogênio mineral na soja é uma prática desnecessária e pode implicar na emissão de mais de 100 kg/ha de CO2-equivalente. Essa prática deve ser substituída pela adoção plena da FBN, o que é mais um exemplo de adicionalidade computada no protocolo SBC”, salienta Nogueira.

O pesquisador também chama a atenção para a sustentabilidade da soja brasileira.

“Vale destacar que a soja brasileira, mesmo no sistema de produção modal, é mais sustentável que a de outros países produtores. O selo SBC sinaliza a intenção do Brasil de melhorar ainda mais os aspectos de sustentabilidade, o que certamente irá agregar valor à soja produzida”, conclui Nogueira.

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