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Fogo volta a se tornar ameaça para pecuaristas do Pantanal

Fogo volta a se tornar ameaça para pecuaristas do PantanalNúmero de focos quadruplicou em relação a 2022. Foto: Secom-MT

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O avanço acelerado dos incêndios no Pantanal colocou, mais uma vez, os pecuaristas que atuam na região em alerta. O número de focos de calor no bioma praticamente quadruplicou em 2023 em relação ao ano passado. São quase cinco mil neste ano, indicam dados da plataforma Terra Brasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Incêndios são comuns nesta época do ano no Pantanal, mas o El Niño piorou o quadro. Isso porque o fenômeno está intensificando o clima seco, o que favorece os focos de calor em boa parte do Mato Grosso do Sul, onde se localiza a maior parte do bioma.

“A situação é crítica. Estamos com todas as condições propícias para que o fogo se alastre”, afirmou ao Globo Rural o presidente da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO), Eduardo Cruzetta.

Hoje, há mais de 200 brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) trabalhando para conter incêndios em trechos da BR-262, no entorno do Parque do Rio Negro e na Terra Indígena Kadiwéu. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)solicitou reforço ao governo federal, e um grupo de brigadistas do Paraná deve chegar ao Estado até o fim de semana.

“Está queimando há quatro dias. O fogo vem de longe, mas viaja muito durante o dia”, diz João Marson, de Miranda (MS). A equipe da fazenda apagou um incêndio nas margens da BR-262 recentemente. “Mas, às vezes, não tem quem possa controlar, a temperatura e a fumaça ficam muito altas”.

Manejo com fogo

Segundo Cruzetta, resta aos pecuaristas afastar o gado das áreas de risco e tentar conter o fogo. Ele diz que um mecanismo anti-incêndios importante era a queima controlada da biomassa, que foi proibida este ano.

Os produtores usavam o fogo para diminuir o volume de biomassa em épocas com grande umidade no solo quando não há risco de o fogo se espalhar. “O pantaneiro fazia isso há duzentos anos, mas virou assunto polêmico e proibiu-se”, afirma.

Em julho, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), responsável por liberar o manejo com fogo, suspendeu a emissão de autorizações até o fim de 2023, devido à tendência de aumentos de focos de calor no terceiro trimestre do ano.

Segundo o cabo Marcos Felipe Rocha, do Corpo de Bombeiros, não está chovendo em novembro como de costume. “As condições climáticas estão extremas: calor chegando a 46°C e ventos de mais de 50 km/h, o que facilita a propagação das chamas”, afirma.

Alto risco

Os riscos de incêndio devem continuar altos. Segundo a coordenadora do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), Valesca Fernandes, as precipitações devem ficar abaixo da média nos próximos três meses. No curto prazo, devido a uma massa de ar quente e seca, as temperaturas máximas em Mato Grosso do Sul podem chegar a 44°C.

Ontem, o Estado decretou situação de emergência, pelo prazo de 90 dias, nos municípios de Ladário, Miranda, Corumbá, Aquidauana e Porto Murtinho. Essas três últimas cidades concentram 97,6% dos focos de calor no Pantanal, segundo dados do Inpe.

Espera pela chuva

Os incêndios que atingem o Pantanal há mais de 30 dias avançaram pelo Parque do Pantanal e Encontro das Águas e chegaram à rodovia Transpantaneira, a principal via de acesso ao bioma em Mato Grosso, que liga Poconé, a 104 km de Cuiabá, a Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul.

De acordo com o G1, até agora, o fogo consumiu mais de 1 milhão de hectares do bioma, o triplo do registrado em 2022 inteiro. É o novembro com mais focos de fogo (3.024) desde 2002.

O médico veterinário Anderson Fernandes Barreto, que atua na região, disse que, na proporção em que o fogo está, somente uma chuva forte conseguiria controlá-lo.

“O Pantanal era um bioma que tinha muito animal, hoje a gente chega nesses pontos e tá até difícil de encontrar animais vivos. Infelizmente o que a gente está vivenciando aqui é um cemitério a céu aberto. A fauna e a flora vêm pagando com a vida esse preço dessa imprudência de nós seres humanos”, destacou Anderson.

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