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Pantaneiros mostram como produzir mais sem desmatar

Pantaneiros mostram como produzir mais sem desmatarNa fazenda Bafo da Onça, a pecuária caminha junto com o turismo. Foto: Reprodução/Famato

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Por André Garcia

Um ano após a implementação da Lei do Pantanal, o desmatamento no bioma caiu 58%. A agropecuária, por outro lado, segue avançando, impulsionada por práticas sustentáveis e geração de renda. Nesta Semana do Meio Ambiente (5 de junho), o Gigante 163 mostra que, enquanto o Congresso debate mudanças na legislação ambiental, produtores brasileiros provam na prática que conservar também é produzir.

Na porção sul-mato-grossense do Pantanal, por exemplo, a pecuária de corte responde por 76% dos empregos e movimenta R$ 3,2 bilhões por ano, segundo o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MS). De acordo com o presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Ângelo Rabelo, a atividade contribuiu para a sobrevivência do bioma a partir de uma lógica da não modificação do ambiente.

Crédito: Senar-MS

“Isso é a consolidação de uma história de mais de 200 anos, onde essa atividade econômica foi determinante, particularmente na questão do uso das pastagens nativas, que contribuiu de maneira decisiva para que, a partir da lógica da não modificação do ambiente, da não destruição de habitat, a vida silvestre pudesse sobreviver”, disse Rabelo à reportagem.

Mas esta não é a única possibilidade para a região. Conhecido como um dos ecossistemas mais ricos do mundo, o Pantanal pode ter sua biodiversidade transformada em lucratividade. Exemplo disso é o Assentamento Taquaral, em Corumbá (MS), onde um mel escuro produzido a partir da flora nativa venceu o Concurso CNA Brasil Artesanal 2024, superando outras 296 amostras de todo o país.

“No início o público tinha rejeição por conta da cor do nosso mel. Pensavam que era garapa, que misturávamos cana. Foi um trabalho de propaganda para apresentar nosso produto”, conta Valdinei da Conceição, fundador da Associação dos Apicultores da Agricultura Familiar de Corumbá.

Associação agora quer incluir produção de própolis no portifólio. Foto: Reprodução – Senar-MS

Já em Mato Grosso, a Fazenda Bafo da Onça, em Poconé, a pecuária caminha junto com o turismo em um modelo que alia produção, cultura e recuperação ambiental. A propriedade de 2.800 hectares é mantida pelo empresário André Thuronnyi, que também é dono da Pousada Araras Eco Lodge, onde uma rigorosa gestão ambiental garante os bons resultados.

“Ao longo de mais de 30 anos, plantamos árvores nativas frutíferas e criamos ambientes com água para atrair a fauna. Isso fez toda a diferença para restaurar o equilíbrio ecológico aqui”, conta André.

Produção pantaneira se adapta às mudanças climáticas

Isso mostra que, quando o ambiente está equilibrado, toda a cadeia produtiva se beneficia.

“O Pantanal depende de água, quer para a reprodução das espécies, quer para renovação das pastagens. Quando enfrentamos estiagens prolongadas, os impactos aparecem na produção e também na paralisação de inúmeros processos ecológicos. A relação entre natureza e economia aqui é bem resolvida”, afirma Rabelo.

Na Bafo de Onça a tradição também é mantida com a criação de cavalos pantaneiros. Foto: Famato

A percepção de que o equilíbrio ambiental sustenta a economia não é apenas teórica — ela já orienta decisões práticas no campo. Diante das mudanças no regime de chuvas e do aumento no risco de incêndios, produtores têm buscado estratégias que aliem produção e conservação. Foi o que aconteceu com André, que percebeu que a pecuária poderia ser aliada do bioma.

“Aqui no Pantanal, o pasto bem manejado impede que o capim seco se acumule e se transforme em combustível para o fogo. Criar boi se tornou parte da solução”, acrescenta o empresário, que conta com suporte técnico do programa Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), desenvolvido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato-MT) em parceria com o Senar-MT e a Embrapa.

A força da lei 

A Lei do Pantanal é apontada por pesquisadores, produtores e pelo governo como um marco de proteção e estabilidade para o bioma. Para Rabelo, a aprovação da norma foi um avanço principalmente porque reuniu setor produtivo, governo e sociedade civil para construir uma estratégia comum. Assim, além de proteger o bioma, ela cria mecanismos que permitem valorizar os excedentes conservados nas propriedades.

Por isso, Rabelo faz um alerta: “Mudanças na legislação que não estejam ancoradas em princípios de sustentabilidade trazem riscos sérios. O Pantanal é um dos ambientes mais sensíveis. Intervenções nos cursos d’água, por exemplo, podem gerar consequências irreversíveis”, pontua Ângelo.

 

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