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El Niño atrasa plantio de soja em MT e produtores temem prejuízo

El Niño atrasa plantio de soja em MT e produtores temem prejuízoEm Mato Grosso, região mais atrasada é a Sudeste. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

O início da temporada 2023/2024 da soja já sofre as consequências do El Niño. Pela falta de chuvas, a semeadura está 6% atrasada em Mato Grosso, onde algumas áreas terão que ser replantadas. A situação também preocupa os produtores porque pode acarretar atraso no plantio da safrinha de milho.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, as lavouras poderão ter uma redução na produtividade em razão do calor, além de o atraso comprometer o plantio do milho de segunda safra, semeado logo após a colheita da oleaginosa.

“Os produtores vivem um momento de muita apreensão. De um lado, temos o atraso no plantio em relação aos outros anos e com o agravante de altas temperaturas, que coloca em xeque os plantios já semeados, uma vez que a temperatura alta pode comprometer o desenvolvimento e até fazer com que se perca lavouras”, disse em nota.

De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até a última sexta, 13/10, a semeadura havia alcançado 35,09% da área prevista, contra 41,35% na temporada anterior.

“Isso gera um atraso no desenvolvimento da soja e, em consequência, a próxima semeadura do milho, que já se encontra com os custos elevados. Isso tem desestimulado o produtor, pois em muitas regiões o custo torna o milho inviável, então, preocupa muito mais”, afirma Cadore.

No Mato Grosso, maior produtor do País, a região mais atrasada é a Sudeste, que alcançou 23,9% do plantio na última sexta. Na mesma data do ano anterior, a semeadura já havia alcançado 45,24%, atraso de 21,33 pontos porcentuais.

Mudança de dinâmica

Como já noticiado pelo Gigante 163, em anos de El Niño, é comum observar no Centro Sul do Brasil a irregularidade da chuva, que pode dificultar o manejo agrícola e afetar a produtividade. Potencializado pelo aquecimento global, o fenômeno também pode inaugurar novas dinâmicas no agro.

Isso porque, o setor, que já vem investindo em conservação, precisará driblar situações como a enfrentada agora por Mato Grosso, além de lidar com outros desafios como quebras de safra, inflação no preço dos alimentos, estagnação econômica e alta nas taxas de juros.

“Isso mostra que precisamos entender o novo ritmo climático e realizar ações que permitam que estas atividades tenham continuidade. É muito mais fácil parar de queimar e desmatar do que mudar a circulação atmosférica”, afirmou em entrevista o o professor-doutor de Climatologia Rodrigo Marques.

Fase atual do El Niño Oscilação Sul (ENOS)

Segundo a Agência Brasil, o El Niño Oscilação Sul (ENOS) é caracterizado pela interação entre a atmosfera e o oceano, no Pacífico Equatorial, e possui duas fases distintas: o El Niño (fase quente), associada ao aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, a La Niña (fase fria), vinculada ao resfriamento dessas águas. Ambas as fases têm o potencial de influenciar significativamente nos padrões climáticos ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

Depois de quase três anos sob as condições do fenômeno La Niña, que perduraram até março deste ano, o panorama climático mudou drasticamente. As águas do Pacífico Equatorial aqueceram rapidamente nos meses subsequentes, e, em junho, foi oficialmente confirmado o início das condições do El Niño.

Desde então, a intensidade tem variado de fraca a moderada, com anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) oscilando entre 0,9°C e 1,3°C até o mês de agosto. No entanto, em setembro/outubro, as anomalias de TSM apresentaram valores em torno de 1,5°C, indicando uma possível evolução para uma classificação mais intensa do fenômeno. Contudo, para consolidar essa classificação, é essencial que as temperaturas se sustentem nesse patamar elevado nos próximos meses.

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