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Municípios que mais desmatam têm pior qualidade de vida

Municípios que mais desmatam têm pior qualidade de vidaO município de Aripuanã tem cerca de 23 mil habitantes. Foto: Prefeitura de Aripuanã

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Por André Garcia

Líderes entre os municípios de Mato Grosso que mais destruíram a Amazônia nos últimos três anos, Colniza e Aripuanã também figuram no ranking dos piores indicadores de qualidade de vida e desenvolvimento na região, segundo comparação entre dados Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Índice de Progresso Social (IPS).

A análise, publicada pelo Instituto do Meio Ambiente e do Homem da Amazônia (Imazon) nesta quinta-feira, 27/7, mostra que esta é a tônica em todos os municípios da Amazônia

Em Colniza, por exemplo, onde o desmatamento correspondeu a 904,67 km², o IPS foi de 52,25. Já em Aripuanã, onde a devastação abrangeu 445,88 km² entre 2020 e 2022, o IPS foi de 48,10.

Crédito: Imazon

Para ser considerada alta, uma nota no IPS precisa superar os 61,80. Os 29 municípios classificados nesta faixa apresentam um desmatamento médio de 20 km² no período. Por outro lado, os 89 municípios com as avaliações mais baixas (inferiores a 50,12), derrubaram uma média de 86 km², ou seja, quatro vezes mais.

“Em geral, os municípios com altas taxas de desmatamento apresentam notas muito baixas. Isso mostra mais uma vez que a expansão da derrubada não gerou desenvolvimento na Amazônia. Pelo contrário, deixou os 27 milhões de habitantes da região sob condições sociais precárias.”

A avaliação é do cofundador do Imazon e coordenador da pesquisa, Beto Veríssimo, que destaca que os números são um pouco melhores nas capitais e em alguns territórios com mais de 200 mil habitantes.

O Índice de Progresso Social considera 47 indicadores em áreas como saúde, educação, segurança e moradia e reforça a relação entre crime ambiental e baixo desempenho social, já que o IPS médio dos 20 municípios com as maiores áreas de floresta destruídas nos últimos três anos (52,30) foi menor do que o de toda a Amazônia (54,32).

Outro exemplo da conexão entre devastação e subdesenvolvimento, é que em 2020 a Amazônia foi responsável por cerca de 52% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, mas contribuiu com apenas 9% do PIB.

“As curvas de crescimento econômico e desmatamento estão dissociadas. No período de maior queda na taxa de derrubada, entre 2004 e 2012, a economia da Amazônia cresceu. E o contrário ocorreu nos últimos anos, de 2017 a 2022, quando a destruição aumentou e a economia esteve em baixa”, completa Veríssimo.

Empecilho para investimentos

Como já mostrado pelo Gigante 163, esta não é a primeira vez que os municípios mato-grossenses são listados em rankings do tipo. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 10 das 30 cidades mais violentas do país estão na Amazônia, sendo uma delas Aripuanã.

Resultado dos baixos níveis de progresso social, o quadro de violência faz com que empresas deixem de investir no bioma por questões de reputação, especialmente considerando a nova era economia verde, que tem critérios ESG (Meio ambiente, social e governança – em tradução do inglês) muito mais rígidos.

A questão também foi abordada por Veríssimo.

“Para promover o progresso social na Amazônia é necessário reduzir drasticamente o desmatamento e as atividades ilegais associadas, pois essas deterioram o ambiente econômico inibindo bons investimentos e, com isso, retardando a marcha da prosperidade na região”, pontua.

Se a Amazônia fosse um país, seria um dos piores do mundo

Em relação ao Brasil, cujo IPS foi de 67,94, a nota da Amazônia em 2023 foi 25% menor (54,32). Já na comparação mundial, se a região fosse um país, o desenvolvimento social amazônico equivaleria ao de Malawi. A nação africana está na posição 125ª entre 169 países avaliados no último IPS Global, de 2022.

Ou seja: a Amazônia estaria em uma posição sofrível: 44º pior país em qualidade de vida. Embora o índice mundial possua indicadores diferentes, essa comparação ilustra a situação social crítica que afeta a região.

Além disso, nenhum dos nove estados da Amazônia Legal superou a média nacional. Mesmo a maior nota, de Mato Grosso (57,38), ainda foi 18% inferior à do Brasil. Os piores resultados foram do Pará (52,68), Acre (52,99) e Roraima (53,19).

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