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Dia do Agricultor: hora de celebrar quem adota boas práticas

Dia do Agricultor: hora de celebrar quem adota boas práticasAgricultor brasileiro tem diferentes caras. Foto: CNA

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Mudanças do clima fizeram agro perder R$ 19 tri em 30 anos

Por André Garcia

Investimento em pesquisa, tecnicidade e adaptabilidade foram algumas das estratégias assumidas pelo agricultor brasileiro para mudar o contexto econômico do País e alçá-lo às primeiras colocações entre os maiores produtores de alimentos do mundo. Esta expertise também fez do produtor um guardião do meio ambiente, do qual a atividade depende estritamente.

E é relação com a natureza  que pode fazer com que o setor lidere a frente de negócios sustentáveis que se anuncia, convertendo a biodiversidade em ativo financeiro e impulsionando o crescimento do Brasil. Recentemente, em entrevista ao Gigante 163, a questão foi destacada pelo consultor jurídico e de meio ambiente da Coordenação de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Justus.

“Há 30 anos não era possível desenvolver agricultura no Cerrado. Hoje temos uma das maiores produções do País ocupando menos área. Para se ter ideia, 99% do algodão vem do Cerrado, além da maior parte do milho e da soja, que são os principais produtos de exportação. Há ainda um potencial enorme para a geração de biocombustíveis”, conta.

No Centro-Oeste, coração agrícola do Brasil, os agricultores que vêm exercendo este papel têm muitas caras e fazem a diferença na conservação da Amazônia, do Cerrado ou do Pantanal. Neste dia 28 de julho, quando se comemora o Dia do Agricultor, separamos algumas histórias que reforçam que desenvolvimento econômico e sustentável caminham de mãos dadas. Confira!

Evitando desmatamento e recuperando pastagens degradadas

O casal Valocir e Mirian Dalpiaz. Foto: Embrapa-MT

Na fazenda Vale do Arinos, em Juara, 56 hectares de áreas degradadas já foram recuperados com a plantação de milho, o que tem evitado novas aberturas para pasto, e, consequentemente, novos desmatamentos da Floresta Amazônica. O processo teve início com o diagnóstico detalhado do solo da fazenda. Com as devidas correções feitas, a semeadura do milho e de capim capiaçu foi realizada em fevereiro deste ano e a colheita ocorreu em agosto.

No caso do grão, o casal de pecuaristas Valocir e Mirian DalPiaz observaram muitos benefícios: serve de alimento para o gado, diversifica a fonte de renda, os restos culturais da lavoura enriquecem o solo e auxilia no manejo de plantas daninhas. O resultado é custo de produção de 70 sc/ha [sacas por hectare], receita líquida de 39 sc/ha e produção de 109 sc/ha em área de pastagem degradada. A proposta é que em 2023 sejam recuperados mais 40 hectares.

Garantindo a segurança hídrica

Capacitação realizada pelo Virada Ambiental. Foto: Arquivo pessoal

Graças à iniciativa da Universidade Federal de Goiás (UFG), os agricultores também são parceiros da recuperação florestal, promovida pelo projeto Virada Ambiental, que já assegurou o reflorestamento de mais de 1.600 hectares de Cerrado com o plantio de mais de 1 milhão de mudas de espécies nativas. Em parceria com diversas instituições da iniciativa pública e privada, os produtores rurais fazem as indicações das áreas a serem restauradas.

“Esse parceiro local pode ser uma prefeitura, um sindicato rural, associações ou mesmo a iniciativa privada. Aqui em Goiânia, por exemplo, tem uma loja de motos que doa uma muda para cada moto vendida. Também temos como parceira uma loja de produtos agropecuários na qual os produtores indicam regiões que podem ser recuperadas.”

Saber tradicional e agroindústria

Na Terra Indígena 7 de setembro, entre Rondolândia (MT) e Cacoal (RO), o povo Paiter Suruí aliou seus saberes tradicionais à necessidade de geração de renda, garantindo investimento de R$ 1.349.5600 do Programa REM MT. O Valor vai subsidiar a instalação de uma indústria de beneficiamento do fruto, além de capacitação e apoio no marketing e na venda dos produtos.

Castanha de babaçu. Crédito: Vitória Lopes/REM-MT

Na região, o manejo e colheita se estendem por cerca de 90 hectares, rendendo para os indígenas, sobretudo, óleo e farinha. O primeiro produto é bom para hidratação da pele e cabelo, tem ação anti-inflamatória e cicatrizante e atende a demandas de hospitais e escolas. Já do segundo, deriva o tradicional beiju, além de bolacha e mingau.

“Aqui já temos uma pessoa formada em Direito e Administração, técnico em Enfermagem, e minha irmã fazendo Contabilidade. O nosso objetivo é trazer esse profissional para o projeto. Imagina agregar esse pessoal, que vai fazer a gestão da agroindústria e do seu território e fazer o protagonismo Paiter? Isso é o nosso sonho, esse é o nosso objetivo”, conta o tesoureiro do projeto, Izanoel Irpererró Suruí.

Agroecologia é a chave para sustentabilidade

Foi pensando no futuro do filho, Miguel, hoje com 4 anos, que o casal Marcos dos Santos Tizziani e Aline Gomes Leite Tizziani, ambos com 25 anos, resolveram implantar a agroecologia em sua propriedade, de 1 hectare. A partir da adoção do sistema eles começaram a produzir e comercializar banana e mamão em escolas e creches de Aripuanã, vendo a renda da família saltar de R$ 2 mil para R$ 10 mil ao mês.

Miguel Tizziani na propriedade da família. Foto: Empaer

“É preciso muito trabalho e dedicação. Comprei o sítio Estrela Celeste dos meus pais. Já tinha desistido da vida do campo, mas, como sempre gostei, decidi apostar e, quando fui convidado para participar do projeto, aceitei de pronto e estou muito satisfeito. Mudou a minha vida e hoje não preciso trabalhar fora da propriedade e tenho mais tempo para minha família”, afirma Marcos.

O futuro dos bioinsumos

A estratégia dos bioinsumos tem se popularizado entre o setor, responsável por colocar comida no prato dos brasileiros. É o caso dos agricultores familiares do projeto Sinop Orgânico, que ajudam a abastecer uma das principais produtoras de grãos do País com alimentos básicos. Por meio estratégias sustentáveis, eles apostam na transição para a produção orgânica para alcançar incremento de até 30% nos lucros.

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