HomeEconomiaProdutividade

Pior safra em 40 anos é atribuída ao ano mais quente da história

Pior safra em 40 anos é atribuída ao ano mais quente da históriaPopulação teme "virada" no campo. Foto: Prefeitura de Sorriso

Com março, Terra tem 10º mês consecutivo de recorde de calor
Observatório europeu confirma 2023 como o ano mais quente da história
Julho deve ser o mês mais quente da história, aponta ONU

Por André Garcia

Conhecida como “capital do agronegócio brasileiro”, Sorriso, no norte de Mato Grosso, é o maior município produtor de soja do mundo e o maior produtor nacional de milho. Em 2022, último ano com os dados já fechados, Sorriso atingiu R$ 11,5 bilhões em valor da produção, 1,4% do total nacional. Também teve o maior valor de produção em soja (R$ 5,8 bilhões) e de milho (R$ 4,2 bilhões).

Contudo, a combinação entre mudanças climáticas, El Niño e ondas de calor registradas em 2023 assombram a cidade com uma quebra de safra histórica e produtores já apontam que este será o ciclo “mais difícil dos últimos 40 anos.” O período coincide com o ano mais quente da história do planeta, segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

No Brasil, a média das temperaturas do ano ficou em 24,92ºC, sendo 0,69°C acima da média histórica de 1991/2020, que é de 24,23°C. Os efeitos disso sobre a lavoura trazem apreensão aos moradores. Se nos últimos anos o comércio local vivia em franca expansão, com a chegada de grandes redes e a instalação de empresas, hoje se pergunta qual será o impacto da virada no campo sobre os negócios.

O AgFeed esteve em Sorriso e registrou o panorama atual, que combina preocupação com prejuízos e expectativa de que os efeitos de uma safra ruim sejam passageiros. Do lado da produção, a expectativa é de uma colheita complicada. De acordo com Sadi Beledelli, produtor rural local e presidente do Sindicato Rural de Sorriso, a safra de 2023/24 será “diferente”.

Retração

Beledelli é gaúcho e, como muitos dos agricultores da região, desembarcou em Sorriso há 40 anos. Ele relembrou que entre os anos 1980 e 1990, os planos econômicos, como Collor e Bresser, dificultaram a colheita, mas pelo aspecto econômico e não produtivo. Por questões climáticas, a safra atual é a mais difícil, ou como ele mesmo disse: “a mais desafiadora dos últimos 40 anos”.

“Quando colhemos e vendemos uma saca de soja, pegamos o recurso e gastamos na cidade, investimos e pagamos o custo. Isso gera desenvolvimento, o dinheiro vai trocando de mão”, diz.

Ele lembra que novembro e dezembro, quando comumente a soja está se desenvolvendo e necessita de chuvas para o chamado “enchimento de grãos”, houve uma seca forte. Nestes meses, segundo o sistema Copernicus, foi registrado aumento na média de calor. De janeiro até novembro, a temperatura média registrada no planeta foi a maior já vista, com 1,46°C acima da temperatura média do período pré-industrial.

“Tem produtor que vai colher 25 sacas por hectare. Fechamos uma parte da minha fazenda com 38 sacas, 24 sacas a menos que a produção do ano passado, uma quebra muito expressiva que não paga o custo de produção. Teremos prejuízo com o plantio da soja”, disse.

Assim, após anos em alta, o preço dos grãos no mercado externo caiu a patamares próximos aos de antes da pandemia, o que aperta as margens dos produtores. Os empresários locais sentem a queda do movimento. É o que explica Alex Miranda, CEO da Plantae, empresa especializada em gestão de propriedades.

“Estávamos preparados para essa safra mais difícil. Como somos daqui, entendemos como funciona e, antes do clima, o preço do grão já havia caído e o dos insumos aumentou. Entendemos esse cenário, mas [o clima] afetou muito os negócios”, afirma Miranda.

LEIA MAIS:

Onda de calor “assa” o Centro-Oeste e Cuiabá registra recorde em 112 anos

Produtores pedem ajuda ao governo para enfrentar crise na soja

El Niño deve mudar dinâmicas do agro de forma permanente

Mudanças climáticas preocupam mais brasileiros, diz pesquisa

Importância das agroflorestas no combate às mudanças climáticas

Como as mudanças climáticas estão afetando o agronegócio

Mudanças climáticas são o principal risco para o agro, dizem investidores

Alertas de mudanças climáticas foram ignorados, com perdas bilionárias para o agro