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Chuva no Sul e seca no Pantanal mostram 2 lados de crise climática

Chuva no Sul e seca no Pantanal mostram 2 lados de crise climáticaSeca. Marcelo Casall Jr./ Agência Brasil

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Por André Garcia

Enquanto o Rio Grande do Sul submerge no pior desastre climático de sua história, a falta de chuvas e o aumento considerável no número de focos de incêndios anunciam tragédias em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde 5.550 focos de calor foram registrados neste ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os extremos mostram a urgência nas ações para mitigação e adaptação à crise climática.

Na segunda-feira, 6/5, o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso anunciou que o número de queimadas no estado aumentou em 109% em comparação ao ano passado e reforçou que o volume de águas está abaixo do que foi registrado em 2020, ano do maior incêndio florestal já registrado no Pantanal.

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Mato Grosso do Sul já está em situação de seca. Lá, a maioria das propriedades rurais enfrenta seca – severa e moderada -, e até agora, apenas 5% do território não enfrenta escassez hídrica.

O problema se agrava devido às altas temperaturas registradas, com previsão de continuidade nas próximas semanas, pressionando ainda mais os recursos hídricos e a saúde da vegetação, o que pode aumentar a probabilidade de ocorrência de incêndios florestais.

Em nota técnica, a Agência Nacional de Águas (ANA) adianta que a Bacia do Pantanal registra os menores números de chuva para esta época e que a perspectiva de chuvas até junho está abaixo da média.

Entre os impactos da seca sobre os usos da água estão o comprometimento de captações para abastecimento humano, como já acontece nas cidades de Porto Murtinho, Corumbá e Ladário. Isso porque, a situação prejudica a navegação comercial no Rio Paraguai pela falta de calado (profundidade de água).

“Com o nível do rio abaixo da média histórica para o período, e com previsão de reduzir ainda mais, há possibilidade de a captação de água ser suspensa ou que sejam necessários investimentos para continuidade ao serviço”, informa a ANA.”

Dados do observatório Copernicus, da Agência Espacial Europeia, reforçam o cenário ao apontar que abril de 2024 teve as temperaturas mais elevadas para esse mês já registradas na série histórica. Conforme o relatório, a média global foi de 15,03°C no período, ficando 0,14°C acima do máximo anterior, de 2016.

Futuro em jogo

Mesmo sob as consequências das catástrofes que assolam o Rio Grande do Sul e ameaçam o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, o Senado Federal debate o projeto de lei 3.334/2023, que prevê que imóveis rurais localizados na Amazônia Legal possam reduzir a cobertura mínima de vegetação de 80% para até 50%.

O projeto seria discutido pelos membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta quarta-feira , 8/5, mas foi retirado da pauta porque o relator está de licença médica.

O Ministério do Meio Ambiente avalia que os impactos da eventual redução representam um desmatamento potencial de pelo menos 28,1 mil hectares.

De acordo com especialistas ouvidos pela CNN, os impactos disso a longo prazo incluem a mudança na paisagem ambiental e interferência climática na fauna e flora locais.

“Do ponto de vista de atender à necessidade humana, deveríamos seguir rigorosamente um modelo de desenvolvimento sustentável, através do manejo, para que as exigências legais de proteção das áreas definidas sejam cumpridas”, disse o mestre em saneamento ambiental, José Bezerra.

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