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Agroecologia traz aumento de 40% em vendas de pequenos produtores do norte de MT

Agroecologia traz aumento de 40% em vendas de pequenos produtores do norte de MTOs agricultores comercializam seus produtos em feiras. Fonte: Adufmat

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Por André Garcia 

Maior exportador de grãos do país, Mato Grosso, a locomotiva das commodities brasileiras, desperta para o seu potencial na produção de frutas e verduras. Em um cenário de aumento da fome, pequenos produtores de Sinop e Cláudia, no norte do Estado, aumentaram em 40% suas vendas a partir de práticas da agroecologia. Ao oferecerem comida de qualidade ao mercado, eles provam a viabilidade da integração dessa produção com a floresta em pé.

Desde 2019 estes agricultores fazem parte do projeto Gaia – Rede de Cooperação para Sustentabilidade, que alia a regeneração do solo e diversificação produtiva a questões sociais. Coordenadora do projeto, a bióloga Rafaella Felipe, explica à reportagem do Gigante 163 que, quando se fala em sustentabilidade, é preciso levar em conta também o contexto econômico.

“Muitas pessoas acham que a produção agroecológica é só para subsistência, o que em um primeiro momento, faz sentido, já que é preciso garantir a segurança alimentar da própria família. Mas essas pessoas precisam ter uma viabilidade econômica, senão, não tem porque permanecer no projeto. É preciso ter renda digna e apoio para produzir.”

De acordo com Rafaella, para além da atuação do projeto, é preciso considerar como fator indispensável para o resultado positivo: o engajamento da comunidade e de todos os agricultores e familiares envolvidos. A página do projeto no Instagram também é importante para a mobilização.

“É uma reação em cadeia, mas os principais atores são os produtores rurais. Eles são realmente os heróis nesse processo.”

Hoje o Gaia atende 10 propriedades de agricultores familiares que recebem suporte ao longo de toda a cadeia de produção, desde o plantio, manejo agroecológico, gestão, sensibilização dos consumidores e comercialização dos alimentos produzidos e processados por eles. No total, cerca de 60 pessoas são beneficiadas pela iniciativa.

“Outro grande diferencial é a assistência técnica com foco na saúde do solo – solo saudável, planta saudável, ser humano saudável -, com técnicas que focam na manutenção da saúde desse solo e, consequentemente, na prevenção de doenças e pragas”, afirma Rafaella, que é Mestre e doutora em Fisiologia e Bioquímica de Plantas.

Oficinas

A proposta contribui ainda com a autonomia dos agricultores, por meio de oficinas de produção de bioinsumos, peletização (revestimento com biofertilizante e pó de rocha) de sementes, e dos demais manejos ecológicos, como cobertura de solo, adubação verde, melhor utilização dos recursos hídricos, consórcios de plantas entre outros.

A ação, desenvolvida pelo campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Sinop, conta com apoio do REM-MT e também é direcionada a trabalhadores terceirizados da instituição, comunidades em risco de vulnerabilidade socioeconômica, agricultores urbanos, periurbanos, assentados da reforma agrária, além de acadêmicos e estudantes de diversas instituições.

Produção diversificada

Nas áreas atendidas pelo projeto os cultivos incluem frutas, hortaliças, raízes, tubérculos, grãos, plantas condimentares, medicinais e plantas alimentícias não convencionais. O trabalho do Gaia é feito a partir de ecossistemas livres de agrotóxicos como os inseticidas, o que favorece não apenas a produção vegetal, como também a produção animal como a meliponicultura (produção de abelhas sem ferrão).

Dentre os benefícios da meliponicultura é possível mencionar a polinização, essencial para produção de alimentos e manutenção das populações selvagens de plantas.

“Nestas propriedades foram instaladas caixas racionais de abelhas. Assim, além da produção vegetal, as famílias têm outra fonte de renda, tão importante e valorizada não apenas em nossa região, mas também nacional e internacionalmente.”

Todos esses produtos são comercializados na Feira Agroecológica do Cantasol, projeto de extensão organizado por professores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que há oito anos auxilia na comercialização de produtos agroecológicos em Sinop.

Agroecologia ou agricultura regenerativa?

 Embora a agroecologia e a agricultura regenerativa se definam a partir de conceitos semelhantes, é preciso fazer algumas diferenciações. A principal delas está no contexto social, tratado pela agroecologia. De acordo com a bióloga, esta ciência integra conhecimento de diversas áreas, além de agregar saberes populares e tradicionais, de comunidades indígenas e camponesas.

Ou seja, há uma dimensão ética, cultural, financeira, técnico produtiva da ação no trabalho. “Dessa forma, ela contribui para a consolidação em curto, médio e longo prazo de alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades”, diz.

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