HomeEcologiaEconomia

Tecnologias poupa-terra são trunfo do agro contra crise climática

Tecnologias poupa-terra são trunfo do agro contra crise climáticaPlantio direto responde por 95% da produção brasileira. Foto: Reprodução/CNA

Agricultura de baixo carbono é prioridade do Plano Safra
Ministérios querem Plano Safra com foco na agricultura de baixo carbono
Brasil não deve apenas exportar energia verde, dizem ministros

Por André Garcia

Conhecidas como tecnologias poupa-terra, soluções como o plantio direto, o uso de bioinsumos e os sistemas integrados, evitaram a abertura de 71 milhões de hectares para a produção de soja no Brasil nas últimas seis décadas. Esse modelo tornou-se uma das principais respostas do País para a crise climática, já que evita emissões associadas ao desmatamento e garante uso eficiente da terra.

O relatório “Soluções em Clima e Natureza do Brasil”, divulgado nesta terça-feira, 17/6, mostra como o agro brasileiro já atua e como pode ampliar sua contribuição na descarbonização da economia, especialmente com o engajamento do setor privado. O mapeamento é do Instituto Arapyaú e do Instituto Itaúsa e foi baseado nas análises de 66 especialistas.

Tecnologias poupa-terra evitaram o desmate de áreas correspondentes ao território da França e da Irlanda.

A lógica das estratégias poupa-terra é simples: aumentar a produção sem avançar sobre novas áreas. E, segundo o relatório, o setor privado brasileiro já está engajado nessa transição. É o caso do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que lançou para a safra 2025/26 um pacote que envolve melhoramento genético e biotecnologia, que pode movimentar R$ 60 bilhões nos próximos 15 anos.

“O Brasil tem todas as condições para ser parte da liderança de uma nova economia regenerativa, inclusiva, de baixo carbono e orientada para o futuro. E o setor privado está preparado para responder aos desafios climáticos, com produtos, investimento e serviços já implementados”, afirma Renata Piazzon, diretora-executiva do Instituto Arapyaú.

Plantio Direto

No centro dessa transformação está o plantio direto, que hoje responde por 95% da produção agrícola brasileira, liderando a aplicação mundial à frente de países como Estados Unidos e Argentina. Implantada inicialmente nos anos 1970, a técnica substitui a aragem tradicional, reduzindo a emissão de carbono do solo, melhorando a retenção de água e aumentando a matéria orgânica.

O sistema também permite o plantio sucessivo de culturas na mesma área, o que explica o desempenho brasileiro no indicador de frequência de uso do solo, 30% superior à média global, segundo dados da FAO citados no relatório.

Biodiversidade a serviço da produtividade

Outro pilar das tecnologias poupa-terra é o uso crescente de bioinsumos. Com base na biodiversidade tropical, o Brasil lidera globalmente tanto no uso de biofertilizantes quanto de defensivos biológicos e, movimenta R$ 5 bilhões por ano, com um crescimento de 148% na aplicação em apenas um ano, segundo o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon).

Atualmente, são mais de 600 produtos registrados. Além de reduzir a dependência de fertilizantes importados, eles minimizam emissões de óxido nitroso, gás de efeito estufa com potencial de aquecimento quase 300 vezes maior que o CO2.

Intensificação com conservação

O relatório também cita os sistemas integrados, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), como estratégia para permitir a produção simultânea de grãos, carne e madeira na mesma área. Conforme dados da Rede ILPF, o Brasil já soma entre 15 milhões e 17,4 milhões de hectares com esses sistemas, que sequestram cerca de 30 milhões de toneladas de carbono por ano.

Próximo passo é monetizar os serviços ambientais

Diante disso, o Brasil pode se apresentar como um grande provedor de soluções climáticas na COP 30, que será realizada em Belém, em novembro. Isso porque o País reúne condições únicas para liderar uma nova economia de baixo carbono, não apenas por sua biodiversidade e matriz energética limpa, mas também por estas práticas agrícolas já consolidadas e em expansão.

Brasil lidera em práticas agrícolas sustentáveis.

Agora, de acordo com os especialistas, o próximo passo é melhorar os instrumentos de financiamento, permitindo que os produtores que investem nessas tecnologias sejam reconhecidos e remunerados pelos serviços ambientais que geram, como a captura de carbono e a proteção da biodiversidade. Programas como o RenovAgro, reformulado pelo governo federal, começam a abrir espaço para isso.

“Quando o mundo busca com urgência referências para enfrentar a crise climática, o Brasil pode demonstrar ser um grande provedor de soluções. Por isso, estamos apoiando esta iniciativa para identificar e compartilhar exemplos escaláveis de soluções climáticas”, avalia Marcelo Furtado, diretor executivo do Instituto Itaúsa.

 

LEIA MAIS:

Brasil pode ser líder global em redução de emissões agrícolas

Pecuária pode evitar prejuízo de R$ 4 bi ao reduzir emissões

Qual preço das emissões de carbono na agropecuária?

Emissões de CO₂ do Cerrado equivalem às da indústria brasileira

ILPF: solo rico leva fazenda ao Mercado de Carbono

Com ILPF, fazenda eleva produção em mais de 1000%

Brasil marca posição em mercado global de bioinsumos

Regulamentação de bioinsumos é aprovada no Senado e vai à sanção

Floresta é solução para proteger a produção agrícola

Desmatamento ilegal causa prejuízo de R$ 16 milhões em MT

No campo, tecnologia e inovação se transformam em lucro

Biofertilizantes e plantio direto garantem produtividade, diz estudo