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Além de crise no campo, mudança climática agrava quadro de dengue

Além de crise no campo, mudança climática agrava quadro de dengueFoto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Por André Garcia

Os prejuízos causados pelas mudanças climáticas não se restringem à quebra de safra.  Como já mostramos, o calor extremo registrado nos últimos meses aumenta a incidência de diversas doenças. É o que vem sendo constatado com o surto de arboviroses, como dengue, zika e Chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

No Centro-Oeste, onde a economia sofre com os efeitos da seca do último ano, 2024 começou com um alerta, já que, somente em janeiro foram registrados 1.758 casos de dengue em Mato Grosso e 1507 em Mato Grosso do Sul. A situação, contudo, é mais grave em Goiás, com 13.461 casos e no Distrito Federal, com outros 30.456.

“O que vai acabar acontecendo com as mudanças climáticas é o agravamento. A gente está caminhando para um outro nível de impacto associado às mudanças do clima”, explicou à Agência Brasil o coordenador científico da plataforma AdaptaBrasil, Jean Ometto.

Nesta semana a iniciativa, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), publicou levantamento realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e reforçou o alerta. As projeções indicam expansão da malária, leishmaniose tegumentar americana e leishmaniose visceral.

“Uma temperatura maior, com uma precipitação maior, pode levar a uma maior proliferação de diferentes mosquitos, insetos que são transmissores dessas doenças, conhecidas como arboviroses.”

O trabalho levou em conta as temperaturas máxima e mínima, a umidade relativa do ar e a precipitação acumulada para associar a ocorrência do vetor, que são os mosquitos transmissores das diferentes doenças em análise. A AdaptaBrasil avalia também a vulnerabilidade e a exposição da população a esses vetores.

“Estamos entrando esta semana em mais uma onda de calor e devemos passar 70 dias com temperatura acima da média para o período e que pode afetar, sem dúvida, a saúde das pessoas”.

Outro elemento analisado na plataforma é o quanto a população está exposta e o quão vulnerável ela é à ocorrência dessas doenças.

“A gente percebe que, em determinadas regiões, pode haver um aumento da ocorrência dessas enfermidades e populações mais vulneráveis e expostas ficam mais suscetíveis a adoecerem por essas diferentes doenças”, disse Ometto, acrescentando que a identificação de que regiões poderão ser mais atingidas depende do tipo da doença.

O mosquito Aedes aegypti transmissor dengue, zika e chikungunya. Foto: Fiocruz

Questão de sobrevivência

De acordo com Ometto, condições melhores de vida, saúde e infraestrutura contribuem bastante para que a população fique menos exposta.   Deste modo, as estratégias de saúde tem que considerar o planejamento territorial, de atendimento e de emergência em saúde.

Ou seja, é importante olhar de maneira preventiva todo o processo, de modo a identificar quais são os elementos em que pode atuar, seja no controle de proliferação dos insetos, seja na infraestrutura e qualidade das habitações, até a situação de atendimento às ocorrências.

“A gente não está preparado para situações emergenciais. Quando ocorre um pico de doença, o país não tem estrutura física que possa atender a todos que estão doentes. Os postos de atendimento ficam sobrecarregados. Isso tende a se agravar”. , conclui ele, que também é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

 

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