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Pastagens aemaçam bactérias cruciais para vida na Amazônia

Pastagens aemaçam bactérias cruciais para vida na AmazôniaAvanço de pastagens cresceu no bioma nos últmios anos. Foto: Fapesp

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Por André Garcia 

Uma cadeia gigantesca de bactérias, fungos e arqueias que vivem debaixo do solo, ajudando a Amazônia a manter-se viva, estão ameaçados pela substituição da floresta por pastagem. É o que aponta artigo publicado na revista Trends in Ecology and Evolution por um time de pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) e colaboradores de universidades dos Estados Unidos e Reino Unido.

A conservação destes microrganismos ganha tom de urgência, se considerados dados do MapBiomas, que mostram que a área de pastagem cresceu mais de 60% nas últimas quatro décadas no Brasil, chegando a 164,3 milhões de hectares (ha).  Boa parte desse crescimento se deu justamente no bioma, onde o pasto ocupava 13,7 milhões de ha em 1985, saltando para 57,7 milhões em 2022.

Dentre os prejuízos causados pela conversão floresta-pastagem, a autora do estudo, Andressa Monteiro Venturini, cita um processo de homogeneização das comunidades bacterianas do solo.

“Um achado inesperado que tivemos nos últimos anos foi o de que pastagens têm uma maior diversidade local de bactérias no solo, em comparação às florestas. No entanto, quando se analisa a escala espacial, os microrganismos encontrados no solo dos pastos são sempre os mesmos, enquanto na floresta existe maior variação de um local para o outro”, explica.

Uma das causas dessa baixa diversidade espacial das pastagens, segundo ela, é justamente a perda de espécies endêmicas de microrganismos, o que pode levar a perda de funções importantes, como o consumo de metano, um gás causador de efeito estufa.

“Os microrganismos têm uma importância muito grande para manter o macro: no caso, o funcionamento da floresta, o equilíbrio entre animais e plantas e os serviços ecossistêmicos dos rios, entre outros”, exemplifica Júlia Brandão Gontijo, coautora do
trabalho e pós-doutoranda na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

Equilíbrio climático

Um caso bastante estudado pelo grupo é o da substituição de microrganismos que consomem metano por aqueles que emitem o gás, quando a vegetação nativa é substituída por pastagens. A criação de gado é responsável por 87% das mudanças de uso do solo na Amazônia.

Solos florestais tipicamente atuam como depósitos de metano, evitando que o gás suba para a atmosfera. Porém, quando convertidos em pastos, passam a abrigar mais espécies produtoras de metano e, consequentemente, emitem mais gases de efeito estufa. Essa mudança de depósito para fonte do gás se intensifica com a remoção da camada superficial do solo e a adição de cal para reduzir a acidez.

Os pesquisadores reforçam que, ao analisar dados isotópicos, as vias metabólicas da produção de metano no solo poderiam ser identificadas, levando a uma maior compreensão da resposta microbiana à mudança do uso do solo. Vale destacar que o estudo integra um projeto apoiado no âmbito de um acordo entre a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, e a FAPESP, por meio do Programa BIOTA.

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