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Extremos climáticos já prejudicam plantio de soja

Extremos climáticos já prejudicam plantio de sojaSituação também pode acarretar atraso no plantio do milho. Foto: CNA

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O clima irregular, ainda que esperado para um ano de El Niño, está afetando o andamento da semeadura em algumas das principais regiões produtoras de soja do País. Como já mostrado pelo Gigante 163, as dificuldades no manejo agrícola e os impactos sobre a produtividade são potencializados pelas mudanças climáticas.

Diante do excesso de chuva em algumas regiões e a falta dela em outras, até 21 de outubro, o plantio chegou a 28,4% da área de 45,1 milhões de hectares que deverão ser cultivados nesta safra. O ritmo está atrasado em relação aos 34,1% semeados um ano antes, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

No Centro-Oeste e no Matopiba [confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], o problema é a estiagem. Ao Globo Rural, o professor do departamento de engenharia de biossistemas da Esalq/USP, Fábio Marin, reforçou que este será um ano típico do El Niño, com muita chuva no Sul e seca no centro-norte do Brasil.

“No Matopiba, o período de chuvas que começa em novembro, pode atrasar, e, além disso, as precipitações devem terminar mais cedo. Não há motivos para ser otimista com a safra na região. Ela pode até ser boa, mas neste momento é pouco provável que isso aconteça”, explica

Em Mato Grosso, maior Estado produtor, a seca e o aumento das temperaturas, que passaram de 44 °C em algumas regiões, motivaram o replantio em algumas áreas, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

Na semana passada, o presidente da instituição, Fernando Cadore, explicou que a situação preocupa os produtores porque também pode acarretar atraso no plantio do milho de segunda safra, semeado logo após a colheita da oleaginosa.

“Os produtores vivem um momento de muita apreensão. De um lado, temos o atraso no plantio em relação aos outros anos e com o agravante de altas temperaturas, que coloca em xeque os plantios já semeados, uma vez que a temperatura alta pode comprometer o desenvolvimento e até fazer com que se perca lavouras”, disse em nota.

Excesso de chuva

O Rio Grande do Sul registra o problema oposto. Havia otimismo para esta temporada, após as grandes perdas causadas pela seca decorrente do fenômeno climático La Niña, na safra passada. No entanto, com o clima sob influência do El Niño, choveu mais do que o necessário e a colheita do trigo vai demorar mais, atrasando o plantio da soja.

“Tivemos um grande volume de chuva por um longo período, algo poucas vezes visto no Estado. Agora os produtores vivem um momento de apreensão, uma vez que muitos deles não contam com trabalhadores suficientes para fazer a colheita do trigo e a semeadura da soja na sequência”, diz Alencar Rugeri, assistente técnico da Emater-RS.

Previsão do tempo

Nos prognósticos do professor da Esalq, há previsão de 70 milímetros de chuva para áreas do Centro-Oeste nos próximos 15 dias, e os termômetros devem ainda marcar altas temperaturas, porém abaixo dos recordes vistos recentemente. Para o Matopiba, as chuvas devem atingir até 40 mm, enquanto para o Sul do país são esperados 100 mm.

Diante dos extremos climáticos, Marin reforça a importância de aplicar recursos em ferramentas de análise de clima, que vão além da previsão do tempo.

“O produtor está sempre atento com a qualidade do solo, mas investe na safra sem muitas vezes conhecer o risco climático da sua região. É importante ter acesso ao histórico de clima da propriedade, para conhecer cada janela ideal e semear na época mais adequada de plantio”, pontua.

Mudança de dinâmica

Todos esses impactos podem inaugurar novas dinâmicas no agro. Isso porque, o setor, que já vem investindo em conservação, precisará driblar situações como a enfrentada agora por Mato Grosso, além de lidar com outros desafios como quebras de safra, inflação no preço dos alimentos, estagnação econômica e alta nas taxas de juros.

“Isso mostra que precisamos entender o novo ritmo climático e realizar ações que permitam que estas atividades tenham continuidade. É muito mais fácil parar de queimar e desmatar do que mudar a circulação atmosférica”, falou à reportagem o professor-doutor de Climatologia Rodrigo Marques.

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