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Protocolo define regras ambientais para a pecuária no Cerrado

Protocolo define regras ambientais para a pecuária no CerradoProtocolo pode ajudar o setor a se adaptar a novas demandas de mercado. Foto: Embrapa

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Por André Garcia

Como já mostramos, com a intensificação do combate ao desmatamento na Amazônia, o Cerrado se tornou o epicentro da devastação, motivada pela abertura de áreas para a pecuária. É este cenário que o Protocolo Cerrado quer reverter. Lançado na terça-feira, 23/4, o documento estabelece 11 critérios de gerenciamento do gado, considerando a conformidade socioambiental da produção,desde o nascimento até o abate.

Por meio do Protocolo de Monitoramento Voluntário de Fornecedores de Gado, nome completo da iniciativa, os pecuaristas terão acesso a um guia com instruções para a produção e a compra responsável de bovinos. Nele, há parâmetros como conformidade com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), eventuais sobreposições com áreas de desmatamento e supressão de espécies nativas ou protegidas (como terras indígenas, quilombolas e Unidades de Conservação).

 

Estão previstos ainda o cruzamento com listas públicas de trabalho escravo e de embargos ambientais, além de análises da Guia de Trânsito Animal (GTA) e da produtividade do criador, como forma de inibir a triangulação de animais provenientes de áreas com irregularidades ambientais ou sociais. As informações dos produtores que aderirem poderão ser acessadas em uma plataforma bilíngue (www.cerradoprotocol.net).

Algumas empresas já aderiram ao protocolo do Cerrado. Segundo o site Reset,  da lista, que não inclui apenas pecuaristas, constam JBS, Marfrig, Minerva Foods, Frigol, Masterboi, Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e a Arcos Dorados, franqueadora da rede de lanchonetes McDonald’s na América Latina e Caribe, ente outros.

De acordo com a Forbes, embora não haja certificação, selo ou marca relacionados ao Protocolo, esta é uma importante ferramenta para que o setor possa se preparar para as crescentes demandas do mercado para a carne brasileira. É o que explica Isabella Freire, diretora executiva da Proforest, organização global de apoio a governos, empresas e entidades que visa a conformidade nas cadeias de abastecimento.

“O Protocolo é resultado de uma ampla convergência entre varejistas, frigoríficos e sociedade civil para equilibrar os anseios de proteção dos recursos naturais e dos direitos humanos em relação às realidades da produção no campo. Nosso intuito é que tenha adesão crescente das empresas da cadeia pecuária, promovendo mudanças nas práticas do setor nesse bioma e até no país,” afirma.

Experiência comprovada

O Protocolo se espelha na experiência do Boi na Linha, implantado na Amazônia desde 2019, a partir de uma parceria entre Imaflora e o Ministério Público Federal. Esta foi a primeira iniciativa a harmonizar regras do setor e vem se aperfeiçoando gradativamente. Ele começou a ser desenvolvido em 2020 tendo à frente três entidades.

Além da Proforest, os apoiadores incluem empresas como Nestlé, Cargill, Wilmar (Mc Donald’s), Danone, Pepsico, Mars, Unilever, entre outras. Mais o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e a National Wildlife Federation (NWF). Houve ainda contribuições da WWF Brasil, do Ministério Público Federal (MPF) e de organizações do setor pecuário e sociedade civil.

“Utilizamos os cinco anos de experiência para levar a outro bioma soluções que respaldam a produção frente aos mercados mais exigentes, ajudam a consolidar a prática da pecuária sustentável e contribuem para o enfrentamento da crise climática”, pontua o engenheiro agrônomo Lisandro Inakake, gerente de projetos em cadeias agropecuárias do Imaflora.

Frigoríficos em foco

A meta é fazer com que os frigoríficos entrem nesse movimento com a ajuda da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC), cuja metade dos associados opera no Cerrado. É o caso da JBS Brasil. Segundo a diretora de Sustentabilidade da empresa, Liège Correia, 30% dos fornecedores estão no bioma e respondem por 47,8% dos bovinos processados em seus frigoríficos.

“A companhia participou da construção conjunta do projeto desde o início e, na largada, já cumpre em sua Política de Compra Responsável os 11 critérios estabelecidos para a conformidade socioambiental dos produtores. Esperamos que haja uma unificação e a aplicação de protocolos nos demais biomas também”, diz a executiva.

 

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